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RECORDAÇÕES DA VIAGEM

Relatos da nossa querida tia Clara Zirr

O navio no qual viemos se chamava Villa Garcia.

Me solicitaram que relatasse as minhas recordações de nossa viagem da Alemanha para o Brasil, mas é pouco do que ainda lembro e também não é tão interessante. As datas não sei mais,  mas a primeira coisa da qual me lembro foi ao embarcar no navio, meu irmão Heinrich me carregava e me disse para fechar os olhos e fingir que estava dormindo, uma vez que eu estava com os olhos um pouco inchados. Caso contrário, não teriam permitido nossa presença no navio, mas eu fui obediente e assim tudo correu bem.

No navio era bonito e por eu não marear e não vomitar, ganhei a cama de cima para dormir. No navio as mulheres e os homens eram separados. Ao lado da nossa cabine estavam acomodadas mulheres amigas, e por as divisórias não serem muito altas, podia se contrabandear. Recebi muitas vezes chocolates por cima das divisórias. Esta família, o nome era Madowitsch, também veio para Guarani, e mais tarde eram nossos vizinhos em Santo Ângelo.

Quando chegamos em Rio Grande nosso pai queria nos dar algo bom e nos comprou melancias, que ele já conhecia da Itália. Estavam muito saborosas, mas nossa irmã Anny ficou muito doente por isso, assim quando voltamos para o navio a Sra. Madowitsch deu a Anny um pouco de conhaque para beber, o que certamente lhe salvou a vida. Ela esteve doente por muito tempo, ainda estava doente quando chegamos em Guarani. De Santo Ângelo tivemos de viajar em dois carros, somente um tinha toldo, o outro era sem e o sol nos queimou. Anny ainda teve que ficar deitada e assim mamãe e Anny viajaram no carro com toldo e eu estava triste por não ter mais lugar para mim.

Em Rio Grande almoçamos e lá comi pela primeira vez feijão preto e acabei comendo da mesa dos outros também, porque gostei muito.

Quando chegamos a Guarani, moramos primeiramente com uma Família Feuerharmel, porque a família da qual o pai havia comprado a colônia ainda não tinha saído. Não sei se foram duas semanas, ou talvez um pouco mais. Ali fiquei conhecendo os bichos de pé, oh como chorei quando estes eram tirados, era quase como uma operação, mas sem anestesia.

Da viagem de navio me ficou muito na lembrança o pôr do sol, que achei muito bonito. Quando o comandante distribuía chocolate da ponte do navio, eu era a primeira, pois sempre gostei de chocolate. Mas a minha decepção foi grande, quando olhei o chocolate, que parecia cigarros, e assim o devolvi, até que gritaram para mim, que era realmente chocolate.Lamentavelmente não posso lhes contar algo mais interessante, isto certamente meus irmãos poderiam ter feito.

Clara Zirr.

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