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CARTA DE HEINRICH MENNO SCHÜÜR

Nascido  em 04/02/1872, que em janeiro de 1924 emigrou com sua esposa e seus filhos

para o Brasil

Carta escrita a bordo durante a travessia, para sua mãe Ida Hauke Schüür

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Heinrich Menno Schüür e Foske Reuwsaat Schüür

O encontro que deu início a nossa História

Sob a proteção de Deus. A bordo do Villa Garcia, 29.1.1924.

Aos nossos queridos em Sulingen!

Amanhã à noite aportaremos a Espanha e, antes disso, gostaríamos de escrever ainda algumas linhas. Vocês certamente gostariam de saber, como estamos e nós também gostaríamos de tirar um peso do teu coração, querida mãe.

A pior parte prevista, onde poderíamos ter sido atingidos por tormentas, já ultrapassamos. O Mar do Norte, o canal inglês e o Golfo de Biscaia são os piores pontos da viagem. Estamos, graças a Deus, todos com saúde e bem. Esperamos que vocês também. Agora queremos lhes contar a vida a bordo e como passamos até agora. Então vocês podem nos acompanhar em pensamento e te pedimos, querida mãe, lembrar de nós em tuas orações.

Após muito pra lá e pra cá subimos a bordo no dia 26.01. (não sei, se já relatei sobre isto em cartas) e logo tivemos de nós separar. As mulheres e crianças foram para a frente no setor das mulheres e os homens para trás no navio. Quando chegamos lá embaixo nos alojamentos, quase não acreditamos, e nos assustamos. Ali estavam camas uma em cima das outras e encostadas nas outras, várias centenas em uma sala, somente separadas por pequenos vãos. Dos pés das camas se arrasta para dentro e trepa para cima. Eu fui direto falar com meu 1° Oficial, para ver se conseguia cabines; mas não havia mais, como me disse. Assim tivemos que nos sujeitar ao inevitável e procurar acomodações. Um cheiro horrível se espalhava por tudo. A bagagem tinha que ser levada junto na cama. Só existia um colchão e sem lençol. Somente um cobertor de lã foi disponibilizado. No setor das mulheres o barulho era enorme devido a gritaria das crianças e no dos homens o barulho vinha dos berros, cantos e músicas feitas em gaitas de boca.

Quando fomos ao convés e fomos dar uma volta, cheguei também ao bonito refeitório da 3ª classe. Aqui havia muita gente ao redor de um oficial do navio a escrever, e quando me informei o que estava acontecendo, escutei que ainda havia cabines vagas. Então consegui, por 72 dólares, 2 cabines, cada uma com 4 camas. Quão contentes estávamos quando pudemos nos alojar em nossas cabines com vasos para vomitar e pinicos. Agora podemos nos trocar sem ser perturbados e estar juntos. Também o comer é muito mais agradável. Fomos atendidos no refeitório como num hotel. Cada um tinha seu lugar numerado. Às 6h30min somos acordados, às 7 horas é o café da manhã, onde serviam café, pão, manteiga, marmelada e uma sopa de leite (arroz, aveia em flocos ou semelhante) ou 2 ovos. Às 11 horas é o almoço. Aí foi servida primeiramente uma forte sopa de carne ( carne, verdura, batatas ) e após pão e café. Às 3 horas tinha café com bolo (pão branco fino com uvas passas). À noite às 5 horas já serviam a janta. Serviam chá fino, pão, manteiga, queijo ou lingüiça e carne com verduras. Toda comida é saborosa e se pode comer a vontade. Melhor e mais bonito não o teremos nunca mais. Os passageiros dos quartos do convés não estavam tão bem, mas suficientemente acomodados, somente faltava o bom atendimento e diversos.

Agora sobre a viagem e o que a envolve. Dia 26 de janeiro à noite saímos de Hamburgo e chegamos durante a noite, enquanto dormíamos, ao Mar do Norte. O tempo estava ameno quando partimos. Quando acordamos de manhã e fomos ao convés, o mar era uma bonita figura, por todos os lados ondas e ondas com as cristas brancas de espuma, era maravilhoso. O navio ia para cima e para baixo nas ondas. Agora muitos enjoaram. Entre nós, a Anny começou primeiro. Depois seguiram Lini, Volkmar, Heini, Kea. Niklas e eu também vomitamos uma vez à noite. Como estávamos contentes por poder estar deitados em nossas cabines e poder vomitar à vontade. Como estaria agora o convés dormitório? Todos corredores estavam cheios. Os que dormiam em cima cuspiam nos de baixo e assim um cheiro se espalhava, um pequeno inferno.

Ao meio dia de segunda-feira todos estavam novamente em pé. O tempo estava bem manso quando atravessamos o canal inglês. Também até hoje, 30 de janeiro, o mar está bem quieto e lindo, sempre uma brisa suave e assim sempre pudemos ficar no convés. Nossa Clara não teve enjôos.

Conosco viajam muitos batistas e amigos, que têm o mesmo destino. Nós cantamos, lemos e rezamos juntos no convés e nos alegramos no Senhor. Queremos todos ficar juntos e fundar uma cooperativa colônia e tentar obter do governo brasileiro uma área de colonização de no mínimo 100 colonos com os quais podemos formar então uma comunidade com igreja e escola. Todos nós nos sentimos dependentes do Senhor e Ele permitirá que obtenhamos sucesso, mesmo que a maioria não tenha nada ou muito pouco.

Aqui também tem uma comunidade de colonização de Hagen da Westfália a bordo, que descerão em Santos no Brasil e receberão do governo terras na selva. Também têm do governo toda ajuda possível. Receberão até a próxima safra as terras aradas; terra à crédito e também material de construção.

Alugamos 2 espreguiçadeiras para toda a viagem. Então fica confortável no convés. A viagem até agora foi maravilhosa. Agora são 5h30min (para vocês já passa das 8 horas). Às 8 horas chegaremos em La Coruna na Espanha. Às 12 horas a viagem continua. Amanhã ao meio dia estaremos em Vigo, onde queremos ir por algumas horas à terra.

Lembranças e beijos com muito amor de Heinrich Schüür, Kea e filhos

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