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HISTÓRIA DA FAMÍLIA DE ENGELINE TROMMENSCHLÄGER

NASCIDA SCHÜÜR

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Família Engeline Trommenschläger

Engeline e Ernst

Nélida, Irene, Ruth, Ernst, Hulda, Käthe e Martha 

A VIDA DE ENGELINE

Colaborou Marlian Zancan Panzenhagen

Alemanha, 21 de agosto de 1902. Cidade de Emden.  Heinrich Menno e Foskea comemoravam o nascimento de sua segunda filha Engeline. Esta criança veio ao mundo com seu destino traçado, mas, sobretudo, destino permeado por situações que exigiriam ao longo de sua existência muita força e fé em Deus para enfrentar as adversidades que a vida lhe reservava.

Engeline viveu na Alemanha, juntamente com seus pais e irmãos até os seus 21 anos de idade. Revelou-se com o passar dos anos, uma pessoa quieta, introvertida e também dotada de uma forte religiosidade.

Estas características a acompanharam pelo resto de sua vida, e talvez, tenham sido responsáveis pela forma como encarou e resistiu às agruras pelas quais passou.

 

Em julho de 1914, iniciou-se a primeira grande guerra que se estenderia até o ano de 1919. Neste período todos viveram com muitas dificuldades e privações, em especial, privações acarretadas pela escassez de alimentos e de dinheiro. A fome se firmava em todo país. Durante esta fase, algumas vezes, Engeline e sua família tiveram como única refeição, o preparo de uma sopa contendo apenas óleo e um nabo e que, às vezes, recebia um complemento conseguido através dos restos de alimentos deixados pelos soldados que por ali, perto de sua casa, passavam. Para os pequenos, o leite era garantido pelo governo.  Sem dúvida, foram tempos difíceis.

Após o término da guerra, com a graça de Deus, toda a família havia sobrevivido. A economia alemã estava visivelmente abalada em conseqüência dos vários anos conturbados que o país atravessou, e por fim, entrava em decadência no período pós-guerra.

Por esta razão, seus pais mudaram-se para uma área rural, onde o Opa Schüür auxiliado pelo filho Nicklaas continuava exercendo a profissão de pintor e a Oma Schuur,  para ajudar no sustento dos filhos foi cuidar de uma horta e de vacas de leite, enquanto Engeline e suas irmãs Juliane e Ida, foram trabalhar na Holanda, onde a moeda era mais estável e conseqüentemente mais forte. Neste país Engeline trabalhava como dama de companhia  e o dinheiro que recebia pelo seu trabalho era fundamental para ajudar seus pais no sustento dos irmãos menores.

A Alemanha entrava cada vez mais em recessão, então, os Schüür decidiram vender tudo e vir embora para o Brasil. Em 26 de janeiro de 1924, a família embarcava no porto de Hamburgo rumo a um novo país, em busca de uma vida melhor.

A jovem Engeline, então com 21 anos de idade, deixava em seu país de origem os tempos de sofrimento e trazia consigo as lembranças que se perpetuariam através de seus relatos para as futuras gerações. Deixava também um pretendente ao casamento, o qual agradava muito aos seus pais que ansiavam em vê-la casada, mas não agradava à jovem pretendida por ser este seu admirador viúvo, fato que explicava a rejeição de Engeline ao casamento, que dizia não querer “as sobras de outra”.

Aqui no Brasil, a família Schüür instalou-se em Linha República, interior de Guarani das Missões, no estado do Rio Grande do Sul, onde foram compradas três colônias de terras já cultivadas. Lá conheceram e passaram a estreitar relações de amizade com Ernst Robert Trommenschlager e sua esposa Ella Engel Trommenschlager.

Pouco tempo depois, Ella veio a falecer em trabalho de parto juntamente com o filho que parira.  Engeline, a pedido de Ella em seu leito de morte,  casou-se com o viúvo Ernst, então já com três filhas, Nélida, filha adotiva, Irene e Ruth que foram acolhidas e criadas por ela. O casal Ernest e Engeline,  tiveram  posteriormente,  cinco filhos, os gêmeos Ernst e Henrique, este último vindo a falecer ainda pequeno, Hulda, Kate e Martha.

Ernst Robert também tinha vindo da Alemanha, após o término da guerra. Inicialmente instalou-se na Argentina juntamente com sua primeira esposa Ella e sua família, e posteriormente veio para o Brasil a convite da comunidade de Santa Rosa a fim de organizar uma cooperativa de agricultores como já havia feito na Argentina. Residindo aqui no Brasil,  contribuiu imensamente para a fundação da primeira Cooperativa Rural do Sul do país, inaugurada em 1930 que nesta época era constituída de 1000 sócios. Foi professor na Linha 23 de Julho, município de Santa Rosa onde moravam. Mais tarde tornou-se inspetor de escola, época em que fazia visitas a 84 escolas da região enquanto responsável pelos exames finais dos alunos. Além disso, era músico e político atuante.

Trabalhou no jornal “A SERRA”.Foi secretário municipal e vice-prefeito da cidade de Santa Rosa.

Quando a Segunda Guerra Mundial irrompeu  por assumir um cargo público, Ernst Robert viajou para Porto Alegre a fim de regularizar sua situação de estrangeiro. Necessitava tratar de sua naturalização, porém durante a viagem sofreu um grave acidente de trem e os inúmeros ferimentos, que na sua maioria atingiram a região craniana, deixaram graves seqüelas, entre elas, anos após, a insanidade mental.  

Depois do fatídico acidente, Ernst Robert deixa o cargo de vice-prefeito e ingressa no ramo de Hotelaria, construindo um hotel em Tucunduva, 7º Distrito do município de Santa Rosa, mas Ernst não era um bom empreendedor, como foram seus cunhados,  Para construir o hotel, contraiu muitas dívidas. O hotel não apresentava bons lucros e os problemas financeiros se somavam às crises de loucura que passou a sofrer, tornando-se cada vez mais freqüentes. Inicia-se um novo período de dificuldades na vida de Engeline. Além de cuidar dos filhos, ela teria agora que cuidar do marido insano e assumir o sustento da família, administrando o hotel só com a ajuda dos filhos menores, uma vez que, Irene já estava casada morando em outra colônia, Ruth morava em Santa Ângelo onde aprendia  o ofício de cabeleireira com a tia Any, e Nélida tinha ido morar em Santa Rosa.

Engeline, não conseguiu suportar por muito tempo tamanhos problemas e escreveu aos pais pedindo-lhes ajuda.

Em seu socorro vieram seus irmãos Heinrich, Nicklas, Volkmar e  seu cunhado Klass. Decidiram que o melhor seria levar o menino Ernst para morar com o tio Nicklas em Cruz Alta onde aprenderia uma profissão e a pequena Martha com a tia Juliane, em Ijuí.

Hulda e Käthe ficaram inicialmente com os pais que foram levados para a casa do Henrich  em Linha República.

Para que ser possível instalar Engeline e os seus numa casa  junto à propriedade de Heinrich, foram retirados do hotel no calar da noite, algumas camas, uma mesa com cadeiras, um fogão e um guarda-louça, só o necessário, devido a pressão dos credores.  O resto do mobiliário, bem como a propriedade construída onde funcionava o hotel, ficaram como pagamento de dívidas.

E assim seguiram suas vidas por mais um tempo. A família estava dividida entre as casas dos parentes e separada pela distância.

Quando a doença de Ernst Robert atingiu um estado mais avançado, a família decidiu interná-lo no Hospital Psiquiátrico São Pedro, na cidade de Porto Alegre em 21/08/1944.  Engeline nunca mais o veria. Ernst Robert viveu neste hospital até 12/12/44 quando morreu, segundo certidão de óbito, de gangrena. A família nunca soube o destino dado a seu corpo.

Alguns anos mais tarde, passados os períodos conturbados, novamente a família de Engeline estava reunida, então, na cidade de Santo Ângelo onde ela morava juntamente com seus pais, o Opa e a Oma Schüür.

Dos filhos, a Nélida, nunca casou, mas teve um filho, e foi morar em Porto Alegre. Irene, que cuidava das lidas do lar foi a primeira a casar, com  Ernest Modess, que era marceneiro e carpinteiro e foi morar no interior de Santa Rosa. Ruth, que aprendeu o ofício de cabeleireira com a tia Any, casou-se com  Karl Axmann, austríaco, e moraram toda suas vidas em Santo Ângelo; Ernest, um dos gêmeos, único filho homem, aprendeu o ofício de pintor, casou-se com Herta Kruger, e foi morar em  Santa Rosa; Hulda que toda sua vida, após adulta,  trabalhou na Casa das Tintas, em Santo Ângelo,  casou-se com o Edgar Krug, que era irmão de Nely, esposa do tio Volkmar Schüür:  Käthe, que também aprendeu o ofício de cabeleireira com a tia Any, casou-se com o Arnaldo Streppel, motorista de caminhão, táxi e ônibus. Moraram em diversos lugares, entre eles, Santo Ângelo; Martha que aprendeu o ofício de farmacêutica, abandonou a profissão ao se casar com Elion Fidelis Zancan, bancário, morou também em diversos lugares, entre eles, Santo Ângelo.

Engeline sempre foi uma pessoa de saúde frágil, reflexo da privação alimentar sofrida no período da guerra. Dedicou sua vida em favor dos filhos, netos e bisnetos. Tinha como traço marcante o senso de justiça perante as pessoas, a submissão perante Deus, e a religiosidade, que se perpetuou ao longo de sua existência. Era também muito habilidosa em seus trabalhos manuais, tanto que quando morreu, deixou confeccionados cerca de 17 conjuntos de roupas para bebê,  para serem distribuídos aos próximos bisnetos a nascerem. Viveu os últimos 27 anos de sua vida de forma bem confortável, com a família da filha Hulda, em Santo Ângelo.

Engeline morreu em 02 de fevereiro de 1984, aos 82 anos de idade. Sua morte foi calma. Ela nos deixou aos poucos. Sua vida lentamente foi se extinguindo como a chama de uma vela que se apaga, tranqüila, em casa, na santa paz de Deus, como sempre desejou.

Encerro , pois, a narrativa sobre a trajetória de vida de minha avó Engeline, sou Marlian Zancan Panzenhagen, segunda filha de Martha, e os fatos por mim relatados me foram transmitidos por algumas das personagens que protagonizaram esta história, como minha mãe, tia Nélida, tia Hulda e tia Käthe,  e que sem dúvida, esboçam uma lição de vida que me faz sentir honrada em poder  compartilhá-la.

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