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NOSSO AMIGO SCHÜÜR

A vida é uma sucessão de mortes. Mas a morte é, para os amigos daquele que tomba, um momento doloroso que remédio algum é capaz de suavizar, balsamificar.

Nos caminhos cruzados da vida, tivemos vários encontros com Nicolau Schüür. Desde o primeiro, uma afeição boa, despida de interesses egoísticos, nos atraiu um para o outro. Ele era dois anos mais moço que nós.

Durante a guerra que a velha Germânia teve de sustentar sob a direção de Hitler, muitas vezes troteamos o Schüür, dizendo-lhe: "que tal o teu colega Hitler ?" Na primeira ele ficou intrigado e nos esclareceu: "colega sim, pois não querem diminuir o Homem, dizendo que é um simples pintor ?" E ele sorriu...

E como pintor, Hitler, no setor guerreiro, na ânsia indômita de castigar os Carrascos de Versailles, subiu, transformando-se no flagelo de Deus. O pintor Schüür, nascido em Emden no ano de 1906, veio para o Brasil e, no setor pacífico, num trabalho intenso, num dinamismo incomparável, deixou marcas em Cruz Alta que o tempo será incapaz de apagá-las.

A perfeição, o gosto artístico, a estética, fizeram morada na alma de Schüür. Ele não admitia nada "feio". Há poucas semanas, pretendiam fincar um um poste desageitado na calçada fronteira ao seu estabelecimento comercial - ele discordou e, por sua própria conta, encomendou uma forma para o nosso amigo Zenkner, mandou fundir um poste de concreto armado e quando o colocaram no lugar definitivo, subiu pelos estribos até ao alto, esquecendo o próprio coração, pois desde o enfarte que sofrera, sua vida corria riscos...

No dia do sepultamento, quando seus restos saíam da igreja para a última morada, um véu cobriu o sol e lágrimas tombaram das nuvens. Foi a derradeira despedida de Cruz Alta a seu filho adotivo - Nicolau Schüür.

Crônica de Olmiro Ilgenfritz publicada no jornal Diário Serrano de Cruz Alta, em 20 de janeiro de 1967.

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